Infelizmente
por medo do próprio sofrimento (pois ninguém quer sofrer) muitas
pessoas criam uma blindagem de "bem estar" e dizem para sí
mesmo: "sorria", "dê a volta por cima", "bola
pra frente", "vou superar porque sou forte", "não
vou sofrer", "vou levar alegrias", etc. Sim, o
altruísmo, o pensamento positivo, o "estar zen" (zen não
tem nada disto, bom a budista aqui frisar) são um bordões de
"felicidade" para muitas pessoas se manterem diante dos
perrengues da vida, e isto de todo não é ruim. Porém há pessoas
que criam uma blindagem de "bem estar" as vezes o fazem
ignorando que muitas pessoas sofrem neste mundo e que imprevistos
podem acontecer na vida. Mas a vida é feita de momentos difíceis
também, momentos que a gente não escolhe passar, como a perda de
algo ou alguém (Não preciso dizer que a perda de um filho é o que
mais dói...).
Qualquer um
pode se estabacar, cair feio, podemos entrar em situações que
realmente sejam difíceis demais para suportar e quem nem os clichês
"altruístas" e "positivos" dão conta de nos
manter. Cair e chegar ao fundo do poço as vezes é necessário para
que possamos rever conceitos, rever valores, questionar, até mesmo
nos revoltar. Há um ditado japonês que diz: "Cair sete vezes,
levantar oito vezes" (Nanakorobi Yaoki – 七転び八起き).
Este ditado não ignora as quedas, mas dá valor a todas as vezes que
nos reerguemos de tombos. Os japoneses tão acostumados a clataclismos sabem bem o que é se reerguer a cada turbulência, eles veem os tombos como aprendizado de vida.
Cair sete vezes, levantar oito. |
Jizos e o
boneco Daruma que por se cair e levantar
como "João Bobo" é associado ao provérbio japonês.
Outro ditado que uma professora minha gosta
muito: "No pain, no gain". (sem dor, sem ganho) Como
profissional de Ed. Física ela faz um paralelo entre a dor da fadiga
muscular com os sofrimentos, as fibras musculares após um episódio
de estresse precisam de um momento de recuperação na qual o corpo
reage com dores musculares, porém ao passar por este processo o
músculo se torna mais forte. Permita-me um adendo cara professora,
tem dores que estão mais para uma dor de ciático ou uma distensão,
o músculo até recupera, mas dá aquela fisgadinha pra lembrar que
existe, as vezes o músculo também não aguenta e precisa de
cuidados. De fato a dor muscular nem se compara a uma dor dão avassaladora que é a perda de um filho. Podemos até passar por esta dor e sobreviver, mas ela sempre deixará sua marca e temos que aprender a conviver com isto.
Assim como
na vida precisamos cair e aprender com nossos tombos. A pessoa que
busca ser "positiva" e ignora todo o sofrimento (ou tenta
viver ignorando) de fato é muito mais covarde do que aquela mãe que
perde um filho e é tachada de "estar se vitimizando". A
pessoa que fala isto ignora o que é cair e se machucar, nunca teve
que passar por isto, logo não pode dar lição de moral na dor dos
outros que caem. Corajosa é esta mãe que passa pelo pior calvário,
suporta o insuportável, e depois tem que se reconstruir mesmo
sabendo que nunca será como antes. Uma louça quebrada e colada,
nunca mais será uma louça inteira, sempre algum caco estará fora
do lugar. Se permitir sentir a pior dor, dizer para si mesmo que é
insuportável, se dar conta que é demais, derramar lágrimas, ir ao fundo do poço e se reerguer, e no final um dia poder sorrir... É preciso muita coragem para isto.
Kintsugi: a arte de reparar louças quebradas com ouro |
A arte japonesa de reparar louça quebrada
com ouro valoriza sua história tornando-as
um objeto único a partir de suas imperfeições.
Portanto
mães, menos culpa quando se der conta que a dor e o sofrimento
parecerem maior do que você. O fato de suportar o insuportável te torna uma mulher de fibra.
Que a luz
de Kannon e Jizo bodisatvas estejam com vocês iluminando corações
e guardando os mizukos.
Gassho!!!