segunda-feira, 15 de outubro de 2018

A importância de ressignificar o luto e de rituais como Mizuko-kuyo


É com um profundo sentimento de gratidão e sentimento de dever cumprido que escrevemos este post.

Esta semana tivemos um surpresa no site do “Grupo Sobreviver –Apoio da Perda Gestacional e do Recém Nascido” na parte de relato das mães de anjo. No depoimento Somos oito – Um relato sobre como ressignificar o luto das perdasprecoces” uma mãe conta como ressignificou suas perdas gestacionais com uma prática inspirada no Mizuko-kuyo. Esta mãe foi inspirada por uma matéria que fizemos ainda no blog do Grupo Sobreviver que tinha o título: “Perda Gestacional na Cultura japonesa e o Mizuko-kuyo”(atualmente neste link). Ficamos felizes que tenhamos ajudado e inspirado outros pais a ressignificar seu luto e a homenagear a passagem de seus filhos nesta existência. 

 

O budismo no Brasil é uma religião que, apesar de muita gente saber do que se trata, ainda é pouco conhecida na sua essência pelos brasileiros. Ainda temos as diversas linhas distintas do budismo como theravada, tibetana e mahayama. Apesar de termos a maior colônia japonesa do mundo e dos brasileiros conceberem a ideia de que os japoneses estão presentes na construção deste país, muito da cultura japonesa não consegue romper as diferenças culturais e acabam não aparecendo. O fluxo de imigração japonesa para o Brasil diminuiu a partir da década de 70, justamente quando a prática do Mizuko-kuyo no Japão se tornou mais usual. Por isto que a cerimônia é pouquíssimo conhecido aqui no Brasil, até mesmo pelos budistas brasileiros. 

Mas a questão é: se não temos a procura por este tipo de serviço, haverá o interesse de quem poça o oferecer? Nisto esbarramos em outra dificuldade, a da nossa sociedade de lidar e assimilar os processos de perda e morte e, consequentemente, de perdas gestacionais e neonatais. Se não conseguimos nem dar a permissão para que pais e mães chorem por seus filhos, quem dirá de fazer um ritual e prestar homenagens aos mesmo. Geralmente se espera que os pais que passaram pela perda gestacional se recuperem do acorrido, pois via de regra, para a sociedade, estes não tem muito o que lamentar, pois o filho perdido "oficialmente" “sequer nasceu”. Para as pessoas que viveram se faz missas, cultos… (vide link) Mas para os que não nasceram vivos, o que se faz?

Muitos profissionais da área de psicologia que lidam com a questão do luto ressaltam a importância dos processos de ressignificação da perda, e nestes é muito importante “rituais” de despedidas para o fechamento de um ciclo (vide o link). Muitos pais que perdem filhos numa gestação procuram ferramentas para ressignificar seu luto entre elas, caixa de lembranças, o plantio de uma árvore, a soltura de balões, fazem uma tatuagem, criam um cantinho na casa para acender velas, etc. Nesta semana de Sensibilização da Perda Gestacional um grupo de Manaus (Instituto Amor Nosso) realizou uma caminhada e soltou balões. Outros grupos incentivaram os pais a acender uma vela as 19h do dia 15 de outubro para lembrar os filhos que partiram.


O ritual do Mizuko-kuyo, se fosse praticado aqui no Brasil, seria mais uma ferramenta para a ressignificação do luto parental.
Posso dizer que prática de um ritual inspirado no Mizuko-kuyo me ajudou muito na ressignificação do luto, e com toda a atmosfera dos conceitos budistas de renascimento, interdependência, me fez ter um entendimento muito abrangente do processo de perda. É uma pena que por questões de tabu, preconceito e desconhecimento a prática não seja feita aqui.

Seria muito positivo se as religiões também criassem meios de acolher estes pais enlutados, pois a religião trabalha com isto, com a nossa ligação com o divino, com o espiritual e com aquilo que só podemos alcançar por meio da fé e crença.

Que a luz esteja com todos os mizukos e com seus pais.


Gassho. _/|\_




O templo existente na cidade de Suzano (NambeiShingonshu Daigozan Jomyoji) realiza cerimônias para Jizo Bosatsu todos os anos (vide link do facebook). A monja Isshin também já realizou cerimônias para Jizo na sua comunidade (vide link). 

Tour pelo templo Manbei de Suzano-SP





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