O Mizuko Kuyo é ritual da tradição do budismo japonês, uma
cerimônia feita em memória de bebês perdidos em qualquer fase da
gestação, no parto e depois dele. No ritual, a imagem de um
"mizuko" ("filho das águas") colocada em um
santuário, é visitada pelas pessoas que tiveram a perda e que nela
deixam um objeto - roupinha, brinquedo, uma lembrança - e fazem
preces com a supervisão do monge. Os Mizukos ficam num local
dedicado a Jizô Bosatsu, entidade muito querida no budismo japonês
que, entre muitos atributos, é considerado o guardião das crianças.
A prática tem várias funções:
reatar a conexão com o ser perdido (como em outros rituais feitos
para os ancestrais), elaborar o luto parental, pedir pelo conforto da
alma do bebê e proteção para a família e até uma forma de expiar
a culpa. Para as perdas gestacionais muito precoces, ou que não se
tem funeral, o ritual ajuda a materializar a perda e a trabalhar
melhor o processo de luto.
O
nome “Mizuko” literalmente significa “criança d'água”, uma
referência a liquido aminótico e porque a água representa vida e
purifica. Os Mizuko são puros e não tiveram tempo de gerar karma, a
perda tanto de um feto como de bebê recém nascido é uma
oportunidade perdida deste trilhar o caminho do Dharma (caminho para
iluminação). O Jizo Bosatsu se encarregará de vigiar os bebês e
de facilitar o caminho deles até o céu. Os monges recomendam aos
pais cuidarem dos Mizuko, rezarem sutras, enviarem sentimentos de
amor e alegria para que a onde estiverem possam senti-lo.
A
prática varia conforme a escola de budismo, mas basicamente tem o
mesmo fim. Ao invés de ser uma coisa mórbida, os locais a onde se
encontram os Mizuko são lugares bem alegres, alguns tem até
playground para as crianças brincarem. Como já mencionei, a
angustia não é recomendada, pois pode atrapalhar o bem estar dos
Mizuko. Para estes sentimentos de angustia, pesar, culpa há sempre a
orientação dos monges que se colocam disponíveis para ouvir e
aconselhar os pais.
Acredito
que a prática do Mizuko Kuyo possa servir de inspiração para
muitos pais que tiveram perda gestacional, permitindo criar uma forma
de lidar com a perda e trabalharem o luto, seja fazendo uma tatuagem,
plantando uma árvore, acendendo uma vela. Aqui na nossa sociedade
temos uma grande dificuldade de externar esta perda. Além disto
temos que lidar muitas vezes com a falta de sensibilidade e empatia.
Simplesmente calamos nossa tristeza no coração e seguimos em
frente. A exemplo dos japoneses poderíamos criar nossos próprios
rituais para celebrar este Ser que esteve em nós e foi tão
desejado. Tal prática pode tornar a dor da perda menos insuportável.
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