sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

O que é o Mizuko?


O Mizuko Kuyo é ritual da tradição do budismo japonês, uma cerimônia feita em memória de bebês perdidos em qualquer fase da gestação, no parto e depois dele. No ritual, a imagem de um "mizuko" ("filho das águas") colocada em um santuário, é visitada pelas pessoas que tiveram a perda e que nela deixam um objeto - roupinha, brinquedo, uma lembrança - e fazem preces com a supervisão do monge. Os Mizukos ficam num local dedicado a Jizô Bosatsu, entidade muito querida no budismo japonês que, entre muitos atributos, é considerado o guardião das crianças.
A prática tem várias funções: reatar a conexão com o ser perdido (como em outros rituais feitos para os ancestrais), elaborar o luto parental, pedir pelo conforto da alma do bebê e proteção para a família e até uma forma de expiar a culpa. Para as perdas gestacionais muito precoces, ou que não se tem funeral, o ritual ajuda a materializar a perda e a trabalhar melhor o processo de luto.
O nome “Mizuko” literalmente significa “criança d'água”, uma referência a liquido aminótico e porque a água representa vida e purifica. Os Mizuko são puros e não tiveram tempo de gerar karma, a perda tanto de um feto como de bebê recém nascido é uma oportunidade perdida deste trilhar o caminho do Dharma (caminho para iluminação). O Jizo Bosatsu se encarregará de vigiar os bebês e de facilitar o caminho deles até o céu. Os monges recomendam aos pais cuidarem dos Mizuko, rezarem sutras, enviarem sentimentos de amor e alegria para que a onde estiverem possam senti-lo.
A prática varia conforme a escola de budismo, mas basicamente tem o mesmo fim. Ao invés de ser uma coisa mórbida, os locais a onde se encontram os Mizuko são lugares bem alegres, alguns tem até playground para as crianças brincarem. Como já mencionei, a angustia não é recomendada, pois pode atrapalhar o bem estar dos Mizuko. Para estes sentimentos de angustia, pesar, culpa há sempre a orientação dos monges que se colocam disponíveis para ouvir e aconselhar os pais.
Acredito que a prática do Mizuko Kuyo possa servir de inspiração para muitos pais que tiveram perda gestacional, permitindo criar uma forma de lidar com a perda e trabalharem o luto, seja fazendo uma tatuagem, plantando uma árvore, acendendo uma vela. Aqui na nossa sociedade temos uma grande dificuldade de externar esta perda. Além disto temos que lidar muitas vezes com a falta de sensibilidade e empatia. Simplesmente calamos nossa tristeza no coração e seguimos em frente. A exemplo dos japoneses poderíamos criar nossos próprios rituais para celebrar este Ser que esteve em nós e foi tão desejado. Tal prática pode tornar a dor da perda menos insuportável.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Vitimização ou coragem? Capacidade de cair e se levantar.

Infelizmente por medo do próprio sofrimento (pois ninguém quer sofrer) muitas pessoas criam uma blindagem de "bem estar" e ...