segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Vitimização ou coragem? Capacidade de cair e se levantar.



Infelizmente por medo do próprio sofrimento (pois ninguém quer sofrer) muitas pessoas criam uma blindagem de "bem estar" e dizem para sí mesmo: "sorria", "dê a volta por cima", "bola pra frente", "vou superar porque sou forte", "não vou sofrer", "vou levar alegrias", etc. Sim, o altruísmo, o pensamento positivo, o "estar zen" (zen não tem nada disto, bom a budista aqui frisar) são um bordões de "felicidade" para muitas pessoas se manterem diante dos perrengues da vida, e isto de todo não é ruim. Porém há pessoas que criam uma blindagem de "bem estar" as vezes o fazem ignorando que muitas pessoas sofrem neste mundo e que imprevistos podem acontecer na vida. Mas a vida é feita de momentos difíceis também, momentos que a gente não escolhe passar, como a perda de algo ou alguém (Não preciso dizer que a perda de um filho é o que mais dói...). 
 
Qualquer um pode se estabacar, cair feio, podemos entrar em situações que realmente sejam difíceis demais para suportar e quem nem os clichês "altruístas" e "positivos" dão conta de nos manter. Cair e chegar ao fundo do poço as vezes é necessário para que possamos rever conceitos, rever valores, questionar, até mesmo nos revoltar. Há um ditado japonês que diz: "Cair sete vezes, levantar oito vezes" (Nanakorobi Yaoki – 七転び八起き). Este ditado não ignora as quedas, mas dá valor a todas as vezes que nos reerguemos de tombos. Os japoneses tão acostumados a clataclismos sabem bem o que é se reerguer a cada turbulência, eles veem os tombos como aprendizado de vida.

Cair sete vezes, levantar oito.
Jizos e o boneco Daruma que por se cair e levantar
como "João Bobo" é associado ao provérbio japonês.

Outro ditado que uma professora minha gosta muito: "No pain, no gain". (sem dor, sem ganho) Como profissional de Ed. Física ela faz um paralelo entre a dor da fadiga muscular com os sofrimentos, as fibras musculares após um episódio de estresse precisam de um momento de recuperação na qual o corpo reage com dores musculares, porém ao passar por este processo o músculo se torna mais forte. Permita-me um adendo cara professora, tem dores que estão mais para uma dor de ciático ou uma distensão, o músculo até recupera, mas dá aquela fisgadinha pra lembrar que existe, as vezes o músculo também não aguenta e precisa de cuidados. De fato a dor muscular nem se compara a uma dor dão avassaladora que é a perda de um filho. Podemos até passar por esta dor e sobreviver, mas ela sempre deixará sua marca e temos que aprender a conviver com isto.

Assim como na vida precisamos cair e aprender com nossos tombos. A pessoa que busca ser "positiva" e ignora todo o sofrimento (ou tenta viver ignorando) de fato é muito mais covarde do que aquela mãe que perde um filho e é tachada de "estar se vitimizando". A pessoa que fala isto ignora o que é cair e se machucar, nunca teve que passar por isto, logo não pode dar lição de moral na dor dos outros que caem. Corajosa é esta mãe que passa pelo pior calvário, suporta o insuportável, e depois tem que se reconstruir mesmo sabendo que nunca será como antes. Uma louça quebrada e colada, nunca mais será uma louça inteira, sempre algum caco estará fora do lugar. Se permitir sentir a pior dor, dizer para si mesmo que é insuportável, se dar conta que é demais, derramar lágrimas, ir ao fundo do poço e se reerguer, e no final um dia poder sorrir... É preciso muita coragem para isto.


Kintsugi: a arte de reparar louças quebradas com ouro
A arte japonesa de reparar louça quebrada 
com ouro valoriza sua história tornando-as
 um objeto único a partir de suas imperfeições.


Portanto mães, menos culpa quando se der conta que a dor e o sofrimento parecerem maior do que você. O fato de suportar o insuportável te torna uma mulher de fibra.

Que a luz de Kannon e Jizo bodisatvas estejam com vocês iluminando corações e guardando os mizukos.
Gassho!!!

Vitimização ou coragem? Capacidade de cair e se levantar.

Infelizmente por medo do próprio sofrimento (pois ninguém quer sofrer) muitas pessoas criam uma blindagem de "bem estar" e ...