segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Quando ressiginificar é a opção



Alguns ao ler este blog podem achar que ele é um pouco mórbido, sim, ele se torna assim quando as pessoas que o leem ainda estão presos a conceitos e pré-conceitos originários da cultura ocidental (ler mais no link). Mas se formos ver pelo ponto de vista influenciado pelo budismo e crenças orientais o blog ganha vida e dá vida aos que estão em outros planos de existência. Esta é um página que aborda as questões do luto perinatal, logo as vezes não tem como ser leves abordando este tema. Procuramos ser o mais leves e humanos possíveis para abordar algo tão delicado.

Uma mãe que perdeu filhos em gestações, inconformada disse que não devíamos nos “conformar”, devíamos procurar as respostas, investir em todos os tratamentos possíveis, etc. Ninguém falou em se “conformar”, falamos em dar novo significado a perda. Acredito que ninguém se conforma, um filho perdido é sempre um filho perdido, não importa a idade em que se perde, aquele filho que se perdeu não volta. Mesmo que se tenha um filho “arco-íris”, este filho é um novo filho, não substitui o que se foi e nem faz esquecer toda a dor da perda.

Não queremos dizer que uma mãe que perdeu um filho por trombofilia, IIC, diabetes, eclampsia, infertilidade ou outro problema, não possa ser otimista e “correr atrás” da felicidade de ter um filhos nos braços. É válido que se busque todos os recursos possíveis para realizar sonhos. Procurar tratamentos e respostas para tentar novamente, e quem sabe, conseguir engravidar e gerar o “bebê arco-íris” é válido se a pessoa tem como fazer. Porém este é um blog para aquilo que a medicina, ou qualquer outra ciência viável no plano físico, não consegue alcançar. Aqui entramos no campo que só a filosofia consegue ir.

Por mais que a medicina tenha evoluído, uma coisa ela ainda não consegue fazer, dar a certeza de que todos os procedimentos terão sucesso. Não sabemos o dia de amanhã, não temos bolinha de cristal, nem um oráculo divino que nos chegue e diga que vai dar tudo certo, as vezes dá, as vezes não dá. Se der certo, que bom, receba as “bençãos” do arco-íris, mas se não der, voltamos a mesma situação. Outra coisa que a medicina não cuida, dos que já se foram.

Este blog é feito para os Mizukos (anjos). Para os bebês arco-íris temos os sites como BabyCenter, ou qualquer outro que as gestantes podem se cadastrar e acompanhar todas as fazes da gestação e o desenvolvimento do bebê. Em contrapartida este blog é para aqueles bebês que estão em outros “planos” (no budismo “reinos”). São para os filhos que os pais sabem que não poderão mais ter o contato físico. Para estes resta somente o “contato espiritual”, é este “contato” que este blog trabalha.

Há casos que só a ressignificação é a opção, e nestes casos o “arco-íris” após a tempestade talvez não chegue como um “bebê arco-íris”. Esta ressignificação pode acontecer das formas mais variadas possíveis. Exemplo: com a adoção de uma criança, com a criação de um livro (link), com a criação de um documentário (link), desenvolvimento de um projeto de conscientização (link) ou apoio a perda gestacional (link, link), com uma viagem, ou com um blog como este aqui.

Uma pessoa me criticou por "fazer um ritual" e "cultuar um boneco". Isto me fez refletir... Se o meu filho estivesse aqui certamente não estaria cuidado de um mizuko. Isto é óbvio, é até ridículo alguém me falar isto, se meu filho estivesse vivo, certamente estaria cuidando dele. Como ele/ela não esta aqui, ressignificar é a única opção. Se eu, como outros pais que perderam, tivéssemos opção certamente não plantaríamos árvores, não soltaríamos balões, não faríamos tatuagens e nem cerimônia de Mizuko-kuyo.

Este blog tem como base a filosofia budista, acreditamos que os filhos perdidos (mizukos) tem uma vida em outros reinos (planos espirituais) e neste lugares eles também precisam ser cuidados com preces, mantras, homenagens e pensamentos positivos. Este cuidado deve-se ter para que possam se iluminar e evoluir, quem sabe até renascer (reencarnar) e ter uma outra oportunidade de trilhar o caminho do Dharma. Acredita-se que alguns bodisatvas podem ajudar os mizukos neste processo, são eles Jizo e Kannon. O Mizuko-kuyo é a forma que os japoneses budistas usam para ajudar os pais enlutado a ressiginificar a dor da perda e também é uma forma de ajudar os mizukos. Enquanto os pais estão “neste plano” ressignificando e encontrando um balsamo para a dor, os mizukos (anjinhos) também estão sendo cuidados.

Há muita compaixão neste processo, há compaixão com os pais enlutados, há compaixão com os mizukos também. 

Gassho



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