Primeiramente, antes de tocar neste assunto, temos que analisar a forma como aprendemos a encarar a vida e a morte no
ocidente. Temos uma cultura influenciada pelos dogmas
judaico-cristãos e, quer queira ou não queira, ela influencia nosso
modo de pensar e nossos conceitos de vida e morte. Nas crenças
influenciadas por este pensamento os conceitos de vida,
morte, alma estão bem definidos e taxativos.
Em resumo: a alma é criada para um corpo que nasce e morre, depois
vai para o céu ou para o inferno.
No Budismo vida, morte e renascimento são parte de um todo que se
manifesta ora de uma forma ora de outra. Podemos perceber que há uma
diferença muito grande de conceitos de uma sociedade para a outra.
Em resumo: não há inicio e nem fim, não há morte, mas
transmutações cíclicas.
O budismo surgiu na Índia a cerca de 2400 anos, consequentemente
esta impregnada de conceitos derivados do hinduísmo que creem na
reencarnação, ou em outras palavras, renascimento. É do hinduísmo
que vem o conceito de roda do samsara que significa o ciclo de
nascimento, morte e renascimento. Existe a crença no hinduísmo que não somos
somente um corpo físico mas uma alma eterna que horas renasce em
corpos mais ou menos auspiciosos conforme o karma. Segundo o Budismo
o Samsara não é um lugar fixo, mas um ciclo de estados da mente. O
que mantém este ciclo são os karmas gerados. Romper este ciclo de
sofrimentos foi um dos objetivos de Shakyamuni Buda. No budismo a
alma não é imutável, ela se transforma constantemente, não tem um
início e não tem um fim. Consequentemente não há uma “morte”
propriamente dita, mas uma mudança de estado. Por exemplo: se “morre” no
corpo físico, se “nasce” em outro lugar e assim por diante.
A forma como a sociedade e a medicina enxergam a questão da vida a da morte durante a gestação é um tanto dura para quem sofre uma perda gestacional. Na gravidez anembrionária a medicina não considera que
houve uma vida, pois não houve um embrião. Quando se trata de um aborto espontâneo
percebemos que simplesmente há uma atitude relapsa. Nas perdas tardias há um pouco mais de
comoção, porem ainda é tratada de forma relapsa. Para alguns
não houve uma vida vivida, não houve convivência, não houve
ligação afetiva, etc. De qualquer forma a perda gestacional é
tratada como um tabu pela nossa sociedade.
Diante da perda gestacional me perguntei se o que havia dentro de mim
era uma vida. Eu a senti como se fosse, pois todos os elementos
estavam ali, houve uma concepção, houve o inicio da formação de
um ser que parou de se desenvolver em algum momento. Fui procurar os conceitos budistas com relação a vida
e percebi que esta discussão se encerra quando tomamos o
conhecimento da roda do samsara. Assim sendo não há
um fim e nem um começo, há apenas a vida nas suas mais diversas
formas de manifestação. Portanto com embrião ou sem embrião há a
vida se manifestando, vida esta que pode durar dentro do útero uma
semana, um mês, ou nove meses… Há até mesmo uma vida celular, pois espermatozoides e óvulos devem
terem vitalidade e estarem em condições de gerar vida.
Há vida independente da condição!
Existe uma crença no budismos na qual diz que cada ser é como uma
onda no oceano, cada vida é como uma onda que surge e desaparece,
porém não deixa de ser mar. Pode ser uma pequena onda, um tsunami,
etc, mas não deixa de ser oceano. Cada bebê gerado é como uma onda
que inicia e acaba, porém este ser não
deixou de ser parte de um universo maior. Os bebês perdidos numa gestação são como pequenas ondas que impactam a vida dos
pais como numa grande ressaca (ou tsunami). Cada onda é única, faz
seu trajeto único, assim como cada ser é único.
Não podemos aplicar uma hierarquia ao valor da
vida, tornando uma mais valiosa que outra. A vida de um embrião, de um zigoto, ou até mesmo
de uma célula, vale tanto quanto a vida de uma pessoa saiu do útero,
cresceu, viveu e “morreu”. Todas as vidas são
importantes, a celular, a embrionária, a uterina, de um recém
nascido e de um adulto.
Por isto que mesmo um bebê que viveu poucos dias, ou aquela gravidez
que não passou do primeiro trimestre é muito valiosa no ponto de
vista do budismo.
Ver também:
Sugestões de vídeos:
A parte que nos interessa esta aos 4:14 min, mas todo o vídeo é interessante.
Vídeo do rev. Hondaku e rev. Ichigyo da escola de budismo shin (Terra Pura).
Vídeo da Monja Coen que foi a primeira professora de minha professora de Dharma. Vídeo curto mas que fala exatamente do assunto abordado neste post.
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