quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Vida e Morte e o Budismo - vida embrionária e uterina



Primeiramente, antes de tocar neste assunto, temos que analisar a forma como aprendemos a encarar a vida e a morte no ocidente. Temos uma cultura influenciada pelos dogmas judaico-cristãos e, quer queira ou não queira, ela influencia nosso modo de pensar e nossos conceitos de vida e morte. Nas crenças influenciadas por este pensamento os conceitos de vida, morte, alma estão bem definidos e taxativos.

Em resumo: a alma é criada para um corpo que nasce e morre, depois vai para o céu ou para o inferno.

No Budismo vida, morte e renascimento são parte de um todo que se manifesta ora de uma forma ora de outra. Podemos perceber que há uma diferença muito grande de conceitos de uma sociedade para a outra.

Em resumo: não há inicio e nem fim, não há morte, mas transmutações cíclicas.

O budismo surgiu na Índia a cerca de 2400 anos, consequentemente esta impregnada de conceitos derivados do hinduísmo que creem na reencarnação, ou em outras palavras, renascimento. É do hinduísmo que vem o conceito de roda do samsara que significa o ciclo de nascimento, morte e renascimento. Existe a crença no hinduísmo que não somos somente um corpo físico mas uma alma eterna que horas renasce em corpos mais ou menos auspiciosos conforme o karma. Segundo o Budismo o Samsara não é um lugar fixo, mas um ciclo de estados da mente. O que mantém este ciclo são os karmas gerados. Romper este ciclo de sofrimentos foi um dos objetivos de Shakyamuni Buda. No budismo a alma não é imutável, ela se transforma constantemente, não tem um início e não tem um fim. Consequentemente não há uma “morte” propriamente dita, mas uma mudança de estado. Por exemplo: se “morre” no corpo físico, se “nasce” em outro lugar e assim por diante.

 A forma como a sociedade e a medicina enxergam a questão da vida a da morte durante a gestação é um tanto dura para quem sofre uma perda gestacional. Na gravidez anembrionária a medicina não considera que houve uma vida, pois não houve um embrião. Quando se trata de um aborto espontâneo percebemos que simplesmente há uma atitude relapsa. Nas perdas tardias há um pouco mais de comoção, porem ainda é tratada de forma relapsa. Para alguns não houve uma vida vivida, não houve convivência, não houve ligação afetiva, etc. De qualquer forma a perda gestacional é tratada como um tabu pela nossa sociedade.

Diante da perda gestacional me perguntei se o que havia dentro de mim era uma vida. Eu a senti como se fosse, pois todos os elementos estavam ali, houve uma concepção, houve o inicio da formação de um ser que parou de se desenvolver em algum momento. Fui procurar os conceitos budistas com relação a vida e percebi que esta discussão se encerra quando tomamos o conhecimento da roda do samsara. Assim sendo não há um fim e nem um começo, há apenas a vida nas suas mais diversas formas de manifestação. Portanto com embrião ou sem embrião há a vida se manifestando, vida esta que pode durar dentro do útero uma semana, um mês, ou nove meses… Há até mesmo uma vida celular, pois espermatozoides e óvulos devem terem vitalidade e estarem em condições de gerar vida.

Há vida independente da condição!

Existe uma crença no budismos na qual diz que cada ser é como uma onda no oceano, cada vida é como uma onda que surge e desaparece, porém não deixa de ser mar. Pode ser uma pequena onda, um tsunami, etc, mas não deixa de ser oceano. Cada bebê gerado é como uma onda que inicia e acaba, porém este ser não deixou de ser parte de um universo maior. Os bebês perdidos numa gestação são como pequenas ondas que impactam a vida dos pais como numa grande ressaca (ou tsunami). Cada onda é única, faz seu trajeto único, assim como cada ser é único.

Não podemos aplicar uma hierarquia ao valor da vida, tornando uma mais valiosa que outra. A vida de um embrião, de um zigoto, ou até mesmo de uma célula, vale tanto quanto a vida de uma pessoa saiu do útero, cresceu, viveu e “morreu”. Todas as vidas são importantes, a celular, a embrionária, a uterina, de um recém nascido e de um adulto. Por isto que mesmo um bebê que viveu poucos dias, ou aquela gravidez que não passou do primeiro trimestre é muito valiosa no ponto de vista do budismo.






Ver também:



Sugestões de vídeos:
A parte que nos interessa esta aos 4:14 min, mas todo o vídeo é interessante.



Vídeo do rev. Hondaku e rev. Ichigyo da escola de budismo shin (Terra Pura).

Vídeo da Monja Coen que foi a primeira professora de minha professora de Dharma. Vídeo curto mas que fala exatamente do assunto abordado neste post.






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