Este foi o primeiro vídeo que assisti após a perda gestacional, realmente muito confortador. Acho muito boa a iniciativa de algumas mães de anjo que deram o seu relato, foi essencial para iniciar o entendimento do luto.
Este documentário foi elaborado por um casal que teve uma perda
gestacional. Achei muito nobre a iniciativa deles. Este documentário
me ajudou muito durante meu processo de luto, confesso que tinha que
parar de ver o tempo todo para poder enxugar minhas lágrimas e até
hoje ele me toca profundamente. Já de inicio no relato de um pai eu
penso no meu companheiro. As histórias das mães são tocantes e não
tem como não se emocionar.
Mas chega de conversa, vamos ao documentário.
O projeto Segundo Sol tem alguns canais de divulgação na internet.
Pra mim foi muito bom vê-lo. Tomar conhecimento de tantos relatos e
me identificar com cada um destes pais e mães fez com que me sentisse
menos desamparada. Recomendo a todos para conscientizar as pessoas sobre a perda gestacional e neonatal.
Primeiramente gostaria de dar um breve relato de minha experiência
como mãe de anjo. Após nove anos de relacionamento, eu e meu
companheiro decidimos que finalmente era hora de ter nosso filho.
Então nos informamos e planejamos tudo para ter nosso bebê. Não
demorou para ter o nosso positivo, nós dois fizemos os testes de
farmácia juntos e comemoramos o resultado. Desde este dia nossa vida
mudou, estávamos muito felizes! Fomos no obstetra juntos, ele me
acompanhou nas ecografias. Mas infelizmente também houve muitas
brigas com membros da minha família, o que me gerou certa angustia
durante a gravidez.
Na 6ª semana de gestação tive um pequeno sangramento, mas como
parou continuei a levar a gravidez. Duas semanas se passaram e tive
outro sangramento mais forte e corri para o hospital, chegando lá
meu sangramento parou e meu colo estava fechado. Como no outro dia já
tinha uma ecografia marcada os médicos disseram que eu a fizesse e
já sondasse se algo tinha acontecido. E na Ecografia a fatídica
notícia, havia um saco vitelínico, mas o embrião não se
desenvolveu e eu estava abortando. Como o aborto estava retido tive
que fazer uma curetagem na 8-9ª semana de gestação.
Eu e o pai do meu filho ficamos arrasados! Até hoje choramos quando
lembramos de tudo que passamos. Decidimos que não íamos passar por
cima do sentimento de luto, pois este bebê foi muito especial para
nós. Para mim foi um bebê que trouxe muitos ensinamentos, pois me
levou a ter muitos insights sobre a vida, ainda mais que na época
iniciei um curso sobre introdução ao budismo com uma mestre Zen.
Um dia, quando completava 4 semanas após a curetagem, senti
novamente uma tristeza e procurei algum conforto em grupos de apoio a
perda gestacional na internet. Me deparei uma matéria que me chamou
muito a atenção por ter muito a haver comigo e com o momento que
passava. Tal matéria caiu em cheio e me deu um certo consolo, ela
tratava de uma pratica japonesa que tem como objetivo prestar
homenagem aos fetos abortados. Compartilhei isto no Grupo Fechado Sobreviver
no facebook e percebi que várias mães de anjo se sentiram
confortadas em saber que em algum lugar no mundo a perda de uma
gravidez é tratada de forma tão respeitosa. Tanto que me pediram
para escrever a respeito.
O Mizuko Kuyo é um ritual da tradição do budismo japonês, uma
cerimônia feita em memória de bebês perdidos em qualquer fase da
gestação, no parto e depois dele. No ritual, a imagem de um
"mizuko" ("filho das águas") colocada em um
santuário, é visitada pelas pessoas que tiveram a perda e que nela
deixam um objeto - roupinha, brinquedo, uma lembrança - e fazem
preces com a supervisão do monge. Os Mizukos ficam num local
dedicado a Jizô Bosatsu, entidade muito querida no budismo japonês
que, entre muitos atributos, é considerado o guardião das crianças.
Jizo Bosatsu retratado junto de crianças
A prática tem várias funções: reatar a conexão com o ser
perdido (como em outros rituais feitos para os ancestrais), elaborar
o luto parental, pedir pelo conforto da alma do bebê e proteção
para a família e até uma forma de expiar a culpa. Para as perdas
gestacionais muito precoces, ou que não se tem funeral, o ritual
ajuda a materializar a perda e a trabalhar melhor o processo de luto.
O nome “Mizuko” literalmente significa “criança d'água”.
Existe uma longa explicação para a origem deste termo, mas não me
deterei nestes detalhes, em resumo é uma referência a liquido
amniótico e porque a água representa vida e purifica. Os Mizuko são
puros e não tiveram tempo de gerar karma, a perda tanto de um feto
como de bebê recém nascido é uma oportunidade perdida deste
trilhar o caminho do Dharma (caminho para iluminação), por isto
esta perda é tão lastimada. O Jizô Bosatsu se encarregará de
vigiar os bebês e de facilitar o caminho deles até o céu. Os
monges recomendam aos pais cuidarem dos Mizuko, rezarem sutras,
enviarem sentimentos de amor e alegria para que a onde estiverem
possam senti-lo.
Jizo na sua tarefa de proteger a alma dos bebês
A prática varia conforme a escola de budismo, mas basicamente tem o
mesmo fim. Ao invés de ser uma coisa mórbida, os locais a onde se
encontram os Mizuko são lugares bem alegres, alguns tem até
playground para as crianças brincarem. Como já mencionei, a
angustia não é recomendada, pois pode atrapalhar o bem estar dos
Mizuko. Para estes sentimentos de angustia, pesar, culpa há sempre a
orientação dos monges que se colocam disponíveis para ouvir e
aconselhar os pais.
Acredito que a prática do Mizuko Kuyo possa servir de inspiração
para muitos pais que tiveram perda gestacional, permitindo criar uma
forma de lidar com a perda e trabalharem o luto, seja fazendo uma
tatuagem, plantando uma árvore, acendendo uma vela. Aqui na nossa
sociedade temos uma grande dificuldade de externar esta perda. Além
disto temos que lidar muitas vezes com a falta de sensibilidade e
empatia. Simplesmente calamos nossa tristeza no coração e seguimos
em frente. A exemplo dos japoneses poderíamos criar nossos próprios
rituais para celebrar este Ser que esteve em nós e foi tão
desejado. Tal prática pode tornar a dor da perda menos insuportável.
Minha
perda gestacional me ensinou muita coisa e gostaria de dar um recado
a todas as mães que passaram por isto. Não se
envergonhem de chorar ou de sentir saudade dos seus anjos. Não
sintam culpa da tristeza, ela é normal. Eu sinto saudades do meu
bebê, mesmo que não tenha crescido, pois o simples fato de saber
que ele "viria" mudou minha vida, portanto não posso
trata-lo somente como um embrião que fracassou, mas como um SER que
foi muito amado. Nós budistas celebram o luto de uma forma um pouco
diferente, para nós a morte é apenas uma mudança, uma passagem,
não propriamente um fim, pois vida e morte fazem parte de um ciclo
natural. Não negligenciamos as perdas, a sentimos e choramos,
homenageamos os que partiram, e principalmente, os honramos com
muitas celebrações. Este ser que um dia esteve em você, não só
no seu ventre como em seu coração, não deve ser largado ao limbo
do esquecimento, ele deve ser muito HONRADO. Cada momento é único,
cada gravidez é única, cada bebê é único. Nenhuma perda se
compara a outra, pois só quem passa pelo sofrimento sabe de sua dor.
Portanto honre seu Anjinho como um Ser único com muito amor, carinho
e respeito.
Cuidem-se bem mães e pais e cuidem de seus Anjinhos (ou Mizukos).
Adriana Tanaka
vídeos a respeito do assunto:
https://www.youtube.com/watch?v=xIj2aDImraM- Vídeo informativo do templo Zenshoji (Budismo
Shingon) que realiza o ritual do Mizuko Kuyo, neste dá para ter uma
ideia de como é feito a cerimônia.
https://www.youtube.com/watch?v=9jvyE5C4NZo
- Vídeo de um desenhista de Anime Independente que inspirado por uma
história perda gestacional de sua mãe fez esta história linda.
Nele se conta a historinha de uma mãe e seu Mizuko. Outro dia parei
para ver os comentários em japonês e acredite, as mães japonesas
tem sentimentos muito parecidos com as mães ocidentais.
O Mizuko Kuyo é ritual da tradição do budismo japonês, uma
cerimônia feita em memória de bebês perdidos em qualquer fase da
gestação, no parto e depois dele. No ritual, a imagem de um
"mizuko" ("filho das águas") colocada em um
santuário, é visitada pelas pessoas que tiveram a perda e que nela
deixam um objeto - roupinha, brinquedo, uma lembrança - e fazem
preces com a supervisão do monge. Os Mizukos ficam num local
dedicado a Jizô Bosatsu, entidade muito querida no budismo japonês
que, entre muitos atributos, é considerado o guardião das crianças.
A prática tem várias funções:
reatar a conexão com o ser perdido (como em outros rituais feitos
para os ancestrais), elaborar o luto parental, pedir pelo conforto da
alma do bebê e proteção para a família e até uma forma de expiar
a culpa. Para as perdas gestacionais muito precoces, ou que não se
tem funeral, o ritual ajuda a materializar a perda e a trabalhar
melhor o processo de luto.
O
nome “Mizuko” literalmente significa “criança d'água”, uma
referência a liquido aminótico e porque a água representa vida e
purifica. Os Mizuko são puros e não tiveram tempo de gerar karma, a
perda tanto de um feto como de bebê recém nascido é uma
oportunidade perdida deste trilhar o caminho do Dharma (caminho para
iluminação). O Jizo Bosatsu se encarregará de vigiar os bebês e
de facilitar o caminho deles até o céu. Os monges recomendam aos
pais cuidarem dos Mizuko, rezarem sutras, enviarem sentimentos de
amor e alegria para que a onde estiverem possam senti-lo.
A
prática varia conforme a escola de budismo, mas basicamente tem o
mesmo fim. Ao invés de ser uma coisa mórbida, os locais a onde se
encontram os Mizuko são lugares bem alegres, alguns tem até
playground para as crianças brincarem. Como já mencionei, a
angustia não é recomendada, pois pode atrapalhar o bem estar dos
Mizuko. Para estes sentimentos de angustia, pesar, culpa há sempre a
orientação dos monges que se colocam disponíveis para ouvir e
aconselhar os pais.
Acredito
que a prática do Mizuko Kuyo possa servir de inspiração para
muitos pais que tiveram perda gestacional, permitindo criar uma forma
de lidar com a perda e trabalharem o luto, seja fazendo uma tatuagem,
plantando uma árvore, acendendo uma vela. Aqui na nossa sociedade
temos uma grande dificuldade de externar esta perda. Além disto
temos que lidar muitas vezes com a falta de sensibilidade e empatia.
Simplesmente calamos nossa tristeza no coração e seguimos em
frente. A exemplo dos japoneses poderíamos criar nossos próprios
rituais para celebrar este Ser que esteve em nós e foi tão
desejado. Tal prática pode tornar a dor da perda menos insuportável.