segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Deixem as mães "enterrarem" seus filhos


Este foi o primeiro vídeo que assisti após a perda gestacional, realmente muito confortador. Acho muito boa a iniciativa de algumas mães de anjo que deram o seu relato, foi essencial para iniciar o entendimento do luto.

O link do blog dela esta aqui: https://marcelaaurelianocriacoes.wordpress.com/2016/09/22/deixem-as-maes-enterrarem-seus-filhos-vamos-falar-sobre-luto-gestacional/


Vale a pena dar uma lida no relato dela.


Ver também:

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Documentário O Segundo Sol


Este documentário foi elaborado por um casal que teve uma perda gestacional. Achei muito nobre a iniciativa deles. Este documentário me ajudou muito durante meu processo de luto, confesso que tinha que parar de ver o tempo todo para poder enxugar minhas lágrimas e até hoje ele me toca profundamente. Já de inicio no relato de um pai eu penso no meu companheiro. As histórias das mães são tocantes e não tem como não se emocionar.
Mas chega de conversa, vamos ao documentário.



O projeto Segundo Sol tem alguns canais de divulgação na internet.
Segue-se:

Impressões sobre o documentário

Pra mim foi muito bom vê-lo. Tomar conhecimento de tantos relatos e me identificar com cada um destes pais e mães fez com que me sentisse menos desamparada. Recomendo a todos para conscientizar as pessoas sobre a perda gestacional e neonatal.



Ver também:

Perda gestacional na cultura japonesa (Mizuko Kuyo)


Este texto foi enviado para a página "Sobreviver: Apoio a Perda Gestacional ou ou Recém-nascido". 

 Boa tarde mães.
Primeiramente gostaria de dar um breve relato de minha experiência como mãe de anjo. Após nove anos de relacionamento, eu e meu companheiro decidimos que finalmente era hora de ter nosso filho. Então nos informamos e planejamos tudo para ter nosso bebê. Não demorou para ter o nosso positivo, nós dois fizemos os testes de farmácia juntos e comemoramos o resultado. Desde este dia nossa vida mudou, estávamos muito felizes! Fomos no obstetra juntos, ele me acompanhou nas ecografias. Mas infelizmente também houve muitas brigas com membros da minha família, o que me gerou certa angustia durante a gravidez.
Na 6ª semana de gestação tive um pequeno sangramento, mas como parou continuei a levar a gravidez. Duas semanas se passaram e tive outro sangramento mais forte e corri para o hospital, chegando lá meu sangramento parou e meu colo estava fechado. Como no outro dia já tinha uma ecografia marcada os médicos disseram que eu a fizesse e já sondasse se algo tinha acontecido. E na Ecografia a fatídica notícia, havia um saco vitelínico, mas o embrião não se desenvolveu e eu estava abortando. Como o aborto estava retido tive que fazer uma curetagem na 8-9ª semana de gestação.
Eu e o pai do meu filho ficamos arrasados! Até hoje choramos quando lembramos de tudo que passamos. Decidimos que não íamos passar por cima do sentimento de luto, pois este bebê foi muito especial para nós. Para mim foi um bebê que trouxe muitos ensinamentos, pois me levou a ter muitos insights sobre a vida, ainda mais que na época iniciei um curso sobre introdução ao budismo com uma mestre Zen.
Um dia, quando completava 4 semanas após a curetagem, senti novamente uma tristeza e procurei algum conforto em grupos de apoio a perda gestacional na internet. Me deparei uma matéria que me chamou muito a atenção por ter muito a haver comigo e com o momento que passava. Tal matéria caiu em cheio e me deu um certo consolo, ela tratava de uma pratica japonesa que tem como objetivo prestar homenagem aos fetos abortados. Compartilhei isto no Grupo Fechado Sobreviver no facebook e percebi que várias mães de anjo se sentiram confortadas em saber que em algum lugar no mundo a perda de uma gravidez é tratada de forma tão respeitosa. Tanto que me pediram para escrever a respeito.
O Mizuko Kuyo é um ritual da tradição do budismo japonês, uma cerimônia feita em memória de bebês perdidos em qualquer fase da gestação, no parto e depois dele. No ritual, a imagem de um "mizuko" ("filho das águas") colocada em um santuário, é visitada pelas pessoas que tiveram a perda e que nela deixam um objeto - roupinha, brinquedo, uma lembrança - e fazem preces com a supervisão do monge. Os Mizukos ficam num local dedicado a Jizô Bosatsu, entidade muito querida no budismo japonês que, entre muitos atributos, é considerado o guardião das crianças.


Jizo Bosatsu retratado junto de crianças

A prática tem várias funções: reatar a conexão com o ser perdido (como em outros rituais feitos para os ancestrais), elaborar o luto parental, pedir pelo conforto da alma do bebê e proteção para a família e até uma forma de expiar a culpa. Para as perdas gestacionais muito precoces, ou que não se tem funeral, o ritual ajuda a materializar a perda e a trabalhar melhor o processo de luto.
O nome “Mizuko” literalmente significa “criança d'água”. Existe uma longa explicação para a origem deste termo, mas não me deterei nestes detalhes, em resumo é uma referência a liquido amniótico e porque a água representa vida e purifica. Os Mizuko são puros e não tiveram tempo de gerar karma, a perda tanto de um feto como de bebê recém nascido é uma oportunidade perdida deste trilhar o caminho do Dharma (caminho para iluminação), por isto esta perda é tão lastimada. O Jizô Bosatsu se encarregará de vigiar os bebês e de facilitar o caminho deles até o céu. Os monges recomendam aos pais cuidarem dos Mizuko, rezarem sutras, enviarem sentimentos de amor e alegria para que a onde estiverem possam senti-lo.

 
Jizo na sua tarefa de proteger a alma dos bebês

A prática varia conforme a escola de budismo, mas basicamente tem o mesmo fim. Ao invés de ser uma coisa mórbida, os locais a onde se encontram os Mizuko são lugares bem alegres, alguns tem até playground para as crianças brincarem. Como já mencionei, a angustia não é recomendada, pois pode atrapalhar o bem estar dos Mizuko. Para estes sentimentos de angustia, pesar, culpa há sempre a orientação dos monges que se colocam disponíveis para ouvir e aconselhar os pais.
Acredito que a prática do Mizuko Kuyo possa servir de inspiração para muitos pais que tiveram perda gestacional, permitindo criar uma forma de lidar com a perda e trabalharem o luto, seja fazendo uma tatuagem, plantando uma árvore, acendendo uma vela. Aqui na nossa sociedade temos uma grande dificuldade de externar esta perda. Além disto temos que lidar muitas vezes com a falta de sensibilidade e empatia. Simplesmente calamos nossa tristeza no coração e seguimos em frente. A exemplo dos japoneses poderíamos criar nossos próprios rituais para celebrar este Ser que esteve em nós e foi tão desejado. Tal prática pode tornar a dor da perda menos insuportável.
Minha perda gestacional me ensinou muita coisa e gostaria de dar um recado a todas as mães que passaram por isto. Não se envergonhem de chorar ou de sentir saudade dos seus anjos. Não sintam culpa da tristeza, ela é normal. Eu sinto saudades do meu bebê, mesmo que não tenha crescido, pois o simples fato de saber que ele "viria" mudou minha vida, portanto não posso trata-lo somente como um embrião que fracassou, mas como um SER que foi muito amado. Nós budistas celebram o luto de uma forma um pouco diferente, para nós a morte é apenas uma mudança, uma passagem, não propriamente um fim, pois vida e morte fazem parte de um ciclo natural. Não negligenciamos as perdas, a sentimos e choramos, homenageamos os que partiram, e principalmente, os honramos com muitas celebrações. Este ser que um dia esteve em você, não só no seu ventre como em seu coração, não deve ser largado ao limbo do esquecimento, ele deve ser muito HONRADO. Cada momento é único, cada gravidez é única, cada bebê é único. Nenhuma perda se compara a outra, pois só quem passa pelo sofrimento sabe de sua dor. Portanto honre seu Anjinho como um Ser único com muito amor, carinho e respeito.
Cuidem-se bem mães e pais e cuidem de seus Anjinhos (ou Mizukos).

Adriana Tanaka

vídeos a respeito do assunto: 


https://www.youtube.com/watch?v=xIj2aDImraM - Vídeo informativo do templo Zenshoji (Budismo Shingon) que realiza o ritual do Mizuko Kuyo, neste dá para ter uma ideia de como é feito a cerimônia. 


https://www.youtube.com/watch?v=9jvyE5C4NZo - Vídeo de um desenhista de Anime Independente que inspirado por uma história perda gestacional de sua mãe fez esta história linda. Nele se conta a historinha de uma mãe e seu Mizuko. Outro dia parei para ver os comentários em japonês e acredite, as mães japonesas tem sentimentos muito parecidos com as mães ocidentais.
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https://www.youtube.com/watch?v=pAub6qELoyM&t=2s - Vídeo que mostra o templo de Zojo-ji em Tóquio que foi criado exclusivamente para os Mizuko.




sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

O que é o Mizuko?


O Mizuko Kuyo é ritual da tradição do budismo japonês, uma cerimônia feita em memória de bebês perdidos em qualquer fase da gestação, no parto e depois dele. No ritual, a imagem de um "mizuko" ("filho das águas") colocada em um santuário, é visitada pelas pessoas que tiveram a perda e que nela deixam um objeto - roupinha, brinquedo, uma lembrança - e fazem preces com a supervisão do monge. Os Mizukos ficam num local dedicado a Jizô Bosatsu, entidade muito querida no budismo japonês que, entre muitos atributos, é considerado o guardião das crianças.
A prática tem várias funções: reatar a conexão com o ser perdido (como em outros rituais feitos para os ancestrais), elaborar o luto parental, pedir pelo conforto da alma do bebê e proteção para a família e até uma forma de expiar a culpa. Para as perdas gestacionais muito precoces, ou que não se tem funeral, o ritual ajuda a materializar a perda e a trabalhar melhor o processo de luto.
O nome “Mizuko” literalmente significa “criança d'água”, uma referência a liquido aminótico e porque a água representa vida e purifica. Os Mizuko são puros e não tiveram tempo de gerar karma, a perda tanto de um feto como de bebê recém nascido é uma oportunidade perdida deste trilhar o caminho do Dharma (caminho para iluminação). O Jizo Bosatsu se encarregará de vigiar os bebês e de facilitar o caminho deles até o céu. Os monges recomendam aos pais cuidarem dos Mizuko, rezarem sutras, enviarem sentimentos de amor e alegria para que a onde estiverem possam senti-lo.
A prática varia conforme a escola de budismo, mas basicamente tem o mesmo fim. Ao invés de ser uma coisa mórbida, os locais a onde se encontram os Mizuko são lugares bem alegres, alguns tem até playground para as crianças brincarem. Como já mencionei, a angustia não é recomendada, pois pode atrapalhar o bem estar dos Mizuko. Para estes sentimentos de angustia, pesar, culpa há sempre a orientação dos monges que se colocam disponíveis para ouvir e aconselhar os pais.
Acredito que a prática do Mizuko Kuyo possa servir de inspiração para muitos pais que tiveram perda gestacional, permitindo criar uma forma de lidar com a perda e trabalharem o luto, seja fazendo uma tatuagem, plantando uma árvore, acendendo uma vela. Aqui na nossa sociedade temos uma grande dificuldade de externar esta perda. Além disto temos que lidar muitas vezes com a falta de sensibilidade e empatia. Simplesmente calamos nossa tristeza no coração e seguimos em frente. A exemplo dos japoneses poderíamos criar nossos próprios rituais para celebrar este Ser que esteve em nós e foi tão desejado. Tal prática pode tornar a dor da perda menos insuportável.

Vitimização ou coragem? Capacidade de cair e se levantar.

Infelizmente por medo do próprio sofrimento (pois ninguém quer sofrer) muitas pessoas criam uma blindagem de "bem estar" e ...